quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

O Romantismo Brasileiro

O ROMANTISMO BRASILEIRO
Considera-se a obra Suspiros poéticos e saudades, de Gonçalves de Magalhães, publicada em Paris em 1836, como o marco inicial do Romantismo brasileiro.
A poesia romântica brasileira passou por diferentes momentos nitidamente caracterizados. Essas diferentes vagas são apontadas pelos estudiosos, que agrupam os autores segundo as características predominantes em sua produção, dando destaque a essas tendências. Embora alguns críticos estabeleçam quatro, cinco e até seis grupos, observa-se que os aspectos apresentados em relevo podem ser assim reunidos:
1º grupo – chamado de primeira geração romântica –, em que se destacam duas tendências básicas: o misticismo (intensa religiosidade) e o indianismo. A religiosidade é marcante nos primeiros românticos, enquanto o indianismo se torna símbolo da civilização brasileira nos poemas de Gonçalves Dias. Esse espírito nacionalista fez desabrocharem também poemas cuja temática explorou o patriotismo e o saudosismo. Nomes que marcaram o período: Gonçalves de Magalhães, Araújo Porto Alegre, Gonçalves Dias.
2º grupo – a segunda geração romântica – , por seu intimismo, tédio e melancolia, abraçou o negativismo boêmio, a obsessão pela morte, o satanismo. É conhecida como geração byroniana (numa alusão ao poeta inglês Lord Byron, um de seus principais representantes) e sua postura vivencial considerada o mal do século, por se tratar não apenas de um fazer poético, mas de uma forma autodestrutiva de ser no mundo. Destaques no período: Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Fagundes Varela, Junqueira Freire. Algumas das obras de Castro Alves permitem enquadrá-lo no período. Sua visão da mulher, marcada pela sensualidade, distancia-se, porém, do lirismo idealizante que caracterizou as demais produções de poesia amorosa do período.
3º grupo – a terceira geração romântica – voltada para uma poesia de preocupação social. Conhecida como condoreira (tinha como emblema o condor, ave que constrói seu ninho em grandes altitudes) ou hugoniana (numa referência a Vitor Hugo, escritor francês cuja obra de cunho social marcou o período), sua linguagem adquiria um tom inflamado, declamatório, grandiloqüente, carregada de transposições e de figuras de linguagem. Seus principais representantes, Castro Alves e Tobias Barreto, têm sua produção associada ao movimento abolicionista e republicano, respectivamente.
CARACTERÍSTICAS DO ROMANTISMO
Grande é o número de características que marcaram o movimento romântico, características essas que, centradas sempre na valorização do eu e da liberdade, vão-se entrelaçando, umas atadas às outras, umas desencadeando outras e formando um amplo painel de traços reveladores.
1. Contraste entre os ideais divulgados e a limitação imposta pela realidade vivida. O universo conhecido se alarga, o Século das Luzes deixa um rastro de anseios libertários, desloca-se o centro do poder; a dependência social e econômica, a inconsciência, o desconhecimento estabelecem para a imensa maioria, no entanto, uma existência marcada por limitações de toda ordem.
2. Imaginação criadora. Num movimento de escapismo, o artista romântico evade-se para os universos criados em sua imaginação, ambientados no passado ou no futuro idealizados, em terras distantes envoltas na magia e no exotismo, nos ideais libertários alimentados nas figuras dos heróis. A fantasia leva os românticos a criar tanto mundos de beleza que fascinam a sensibilidade, como universos em que a extrema emoção se realiza no belo associado ao terrificante (vejam-se as figuras do Drácula, do Frankstein, do Corcunda de Notre Dame e a ambiência que os rodeia).
3. Subjetivismo. É o mundo pessoal, interior, os sentimentos do autor que se fazem o espaço central da criação. Com plena liberdade de criar, o artista romântico não se acanha em expor suas emoções pessoais, em fazer delas a temática sempre retomada em sua obra.
4. Evasão. O escapismo romântico manifesta-se tanto nos processos de idealização da realidade circundante como na fuga para mundos imaginários. Quando acompanhado de desesperança, sucumbe ao chamado da morte, companheira desejada por muitos e tema recorrente em grande número de poetas.
5. Senso de mistério. A valorização do mistério, do mágico, do maravilhoso acompanha a criação romântica. É também esse senso de mistério que leva grande número de autores românticos a buscar o sobrenatural e o terror.
6. Consciência da solidão. Conseqüência do exacerbado subjetivismo, que dá ao autor romântico um sentimento de inadequação e o leva a sentir-se deslocado no mundo real e, muitas vezes, a buscar refúgio no próprio eu.
7. Reformismo. Esta característica manifesta-se na participação de autores românticos em movimentos contestadores e libertários, com grande influência em sua produção, como foi a campanha abolicionista abraçada por Castro Alves e o movimento republicano assumido por Sílvio Romero.
8. Sonho. Revela-se na idealização do mundo, na busca por verdades diferentes daquelas conhecidas, na revelação de anseios.
9. Fé. É a fé que conduz o movimento: crença na própria verdade, crença na justiça procurada, crença nos sentimentos revelados, crença nos ideais perseguidos, crença que se revela ainda em diferentes manifestações de religiosidade cristã – fé. Não se pode esquecer a profunda influência do medievalismo na construção do mundo romântico, dele fazendo parte a religiosidade cristã.
10. Ilogismo. Manifestações emocionais que se opõem e contradizem.
11. Culto da natureza. A natureza adquire especial significado no mundo romântico. Testemunha e companheira das almas sensíveis, é, também, refúgio, proteção, mãe acolhedora. Costuma-se afirmar que, para os românticos, a natureza foi também personagem, com papel ativo na trama.
12. Retorno ao passado. Tal retorno deu origem a diversas manifestações: saudosismo voltado para a infância, o passado individual; medievalismo e indianismo, na busca pelas raízes históricas, as origens que dignificam a pátria.
13. Gosto do pitoresco, do exótico. Valorização de terras ainda não exploradas, do mundo oriental, de países distantes.
14. Exagero. Exagero nas emoções, nos sentimentos, nas figuras do herói e do vilão, na visão maniqueísta a dividir o bem e o mal, exagero que se manifesta nas características já listadas.
15. Liberdade criadora. Valorização do gênio criador e renovador do artista, colocado acima de qualquer regra.
16. Sentimentalismo. A poesia do eu, do amor, da paixão. O amor, mais que qualquer outro sentimento, é o estado de fruição estética que se manifesta em extremos de exaltação ou de cinismo e libertinagem, mas sempre o amor.
17. Ânsia de glória. O artista quer ver-se reconhecido e admirado.
18. Importância da paisagem. A paisagem é tecida de acordo com as emoções dos personagens e a temática das obras literárias.
19. Gosto pelas ruínas. A natureza sobrepõe-se à obra construída.
20. Gosto pelo noturno. Em harmonia com a atmosfera de mistério, tão próxima do gosto de todos os românticos.
21. Idealização da mulher. Anjo ou prostituta, a figura da mulher é sempre idealizada.
22. Função sacralizadora da arte. O poeta sente-se como guia da humanidade e vê na arte uma função redentora.
Acrescentem-se a essas características os novos elementos estilísticos introduzidos na arte literária: a valorização do romance em suas muitas variantes; a liberdade no uso do ritmo e da métrica; a confusão dos gêneros, dando lugar à criação de novas formas poéticas; a renovação do teatro.
O ROMANCE ROMÂNTICO
Destaque especial teve no movimento romântico a narrativa romanesca. Foi por meio dos romances que a Europa marcou seu reencontro com o mundo medieval em que repousavam as raízes das modernas nações européias. Ali floresceram os ideais cavalheirescos que resgatavam na origem heróica a dignidade da pátria e se expressaram nos romances históricos. Encontram-se também as narrativas apoiadas no embate entre o Bem e o Mal, com a vitória do primeiro. No Brasil, o romance histórico se fez indianista na busca das raízes da nacionalidade (não esqueçamos que a independência há pouco alcançada legou aos intelectuais românticos o compromisso de construir a identidade nacional).
O primeiro romance bem-sucedido na história da literatura brasileira foi A moreninha, de Joaquim Manuel de Macedo, publicado em 1844. Seu reconhecimento se deve ao fato de ter sido a primeira narrativa centrada em personagens brasileiros, com ambiência local.
Os romances do período romântico foram construídos em torno de quatro grandes núcleos:
· Os romances históricos, voltados para as relações que fizeram o Brasil colônia;
· Os romances indianistas, com a intenção de estabelecer nossas raízes históricas, construiu-se em torno da idealização da figura do índio, transformado em herói nacional;
· Os romances urbanos, com ênfase nas relações amorosas, foram o espaço de revelação das preocupações burguesas, sua noção de honra e o significado do dinheiro nas relações estabelecidas;
· O romance sertanista ou regionalista, voltado para o mundo rural, veio a ser a abertura para uma das temáticas mais significativas a desenvolver-se na literatura brasileira nos movimentos literários que se seguiram ao Romantismo.
Embora encontrados em muitos dos escritores do período, os romances assim caracterizados foram preocupação especial de José de Alencar, que se propôs a, através de sua obra, representar o Brasil em todas as suas facetas

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